A Reconstrução dos Direitos Trabalhistas:  Formas Alternativas de Emprego Reconhecidas pelo STF (“Pejotização”)


16 de outubro de 2023By João Pedro Gois

Analisando a recente decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos autos do Recurso Extraordinário nº 958252, que estabeleceu que trabalhadores contratados por meio de “pessoas jurídicas” não podem questionar a legalidade da contratação na Justiça do Trabalho, nota-se o marco de uma mudança significativa no cenário jurídico-trabalhista brasileiro.

 

A fundamentação subjacente a essa decisão reside na interpretação do artigo 114, da Constituição Federal, que confere à Justiça do Trabalho a competência para julgar as medidas judiciais decorrentes da relação de trabalho. Neste contexto, a Suprema Corte entendeu que contratos civis celebrados por trabalhadores possuem presunção de validade que apenas a Justiça Comum poderia afastar, vez que a matéria é de sua competência.

 

No cerne do direito trabalhista, conforme delineado no artigo 3º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), repousa o princípio da primazia da realidade sobre a forma e, em seu artigo 9º, estabelece a nulidade de atos que visem fraudar os direitos trabalhistas.

 

Contudo, a decisão do STF introduz uma dinâmica diferente, ao conferir maior legitimidade à “pejotização”. Essa mudança paradigmática, embora tenha gerado controvérsias, também abre espaço para uma reinterpretação dos princípios trabalhistas à luz das necessidades contemporâneas.

 

A “pejotização”, muitas vezes vista como uma prática questionável, emerge agora como uma estratégia legítima para as empresas. Ao facilitar a contratação por meio de pessoas jurídicas, a decisão do STF proporciona uma flexibilidade contratual que pode se alinhar mais eficazmente às necessidades e à dinâmica do mercado de trabalho contemporâneo.

 

Nesse cenário, as empresas se veem diante de uma oportunidade de reestruturar suas relações laborais de maneira mais condizente com a agilidade e a versatilidade exigidas pelos tempos atuais.

 

Além disso, é importante observar que, segundo uma nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE, as possibilidades de trabalho para pessoas jurídicas muitas vezes se assemelham às dos empregados celetistas. Isso pode indicar uma mudança na dinâmica do mercado de trabalho, onde a “pejotização” está sendo considerada uma opção viável para muitos profissionais, especialmente em um cenário pós-pandêmico.

 

A capacidade de contratar profissionais por meio de pessoas jurídicas proporciona uma margem significativa para a inovação contratual, ao mesmo tempo em que garante uma maior autonomia aos trabalhadores.

 

Ao adotar a “pejotização” como uma estratégia de contratação, as empresas podem estabelecer relações contratuais mais adaptáveis às suas necessidades operacionais, sem comprometer a segurança jurídica.

 

Em um contexto global em que a agilidade e a inovação são cruciais para a competitividade das empresas, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) surge como um catalisador para uma revisão profunda das práticas laborais.

 

A “pejotização”, quando vista dentro de parâmetros éticos e legais, representa um avanço na maneira como as empresas encaram a gestão de pessoal. Ela não apenas reflete a adaptação necessária às complexidades do mercado contemporâneo, mas também oferece uma oportunidade para uma abordagem mais dinâmica e eficiente nas relações laborais.

 

Diante dessa nova perspectiva proporcionada pela decisão do STF, as empresas podem abraçar a “pejotização” como uma ferramenta estratégica para aprimorar suas operações, promovendo um ambiente mais dinâmico e colaborativo entre empregadores e trabalhadores.

 

Ao fazê-lo, estarão não apenas em conformidade com as recentes diretrizes jurisprudenciais, mas também contribuindo para um modelo mais ágil e resiliente de mercado de trabalho, em consonância com as demandas da era contemporânea.